quinta-feira, 19 de novembro de 2009

BOS

A certeza do porte nobre
Com as pesadas heranças
Que repousam nos seus ombros
Responsabilidades assumidas
Sem causas a defender
Ódios a alimentar
Faz as delícias de um povo
Moldado de indecências
E nas suas transparências
Qualquer acto tanto é de louvar
Como até de criticar
Seja como for, continua a sorrir
Acena e mete pena
Alma vazia, sem nada a revelar
Os ombros encolhidos
A destinos traçados e definidos
Antes da sua concepção
E continuará a sorrir e a acenar
Em estados teatrais
Depressões fundamentais
Para sobreviver nessa roda giratória
E enquanto houver memória
No precário registo das palavras
Todo mundo chorará as suas sensações amargas

Desc

Olhos postos numa janela
Uma espera desnivelada
Uma gaivota na enseada
Que grita desalmada
Por novos horizontes
Cruza os céus, rasa as pontes
E volta ao seu poiso.
Outro dia, outro voo
Afiguram-se novas lidas
Sem saber se acometidas
De factos fundamentais
Pode ser da gaivota
Pode ser dos ideais
Do voa, pousa, pousa, voa
Acções repetidas
Canseiras esbaforidas
Pobre gaivota, morreu de embaraço
expirou no meu regaço
e os olhos postos na janela
Onde cruza agora uma caravela
que dará início ao mesmo torpor...

Moi

Achei-me idónea de prosseguir
Pé ante pé conduzi-me de volta à estrada
Semi - despida, presumida e empoeirada
De cabeça baixa, limitada e enfadada
Não é este o meu caminho
Voltei a enganar-me...
Tenho uma predilecção especial
Por enganos, engodos, equívocos
Por cinismos e outros aforismos
E mesmo voltando ao caminho certo
Tão direito, limpo, asseado e recto
Sempre duvido que a ele pertençam meus passos
E volto a entrar em desilusões, em dúvidas e reflexões
E os conselhos encimados,
aos meus ouvidos gritados:Deixa isso menina,
cansa-te de usar a cabeça
Deixa-a em casa, deixa que ela adormeça
Pensa só com o coração, mete patins na imaginação
Faz a tua revelação mesmo que seja só hoje….

Chuva

A chuva cai,
ora de mansinho, ora de rompante
Chuva bipolar, de humor variado
Tão doce em canto delicado
E de impulso, indignada sova o vidro,
Pula entre as pedras da calçada
Acarinhadas como a filha desgarrada
Escorre nas paredes numa dança sensual
Entrega-se à terra seca num invernoso ritual
Enlameia os pés de quem corre, anda, pisa o chão
Chuva que se infiltra, agente secreta
Sem rodeios ou cerimónias, tão directa
Fala sem falar, desmaia em vontade imperial
Chega, fora de tempo ou no seu tempo, é normal
Oblíqua e sem receios, incita os rios à insurreição
Nos seus leitos adormecidos no abafadiço do verão
Faz humanas vozes se doarem ao praguejo
Que não era este seu desejo, recebe-la de braços abertos
E sem lamentos concretos, todos se resignam e aceitam
A chuva chegou, e hospedada está na sua vontade
E somente a ela cabe, decidir o chegar e o partir…

A minha noite

Sou da noite a noite é minha
Gosto quando ela me acarinha
Com palavras doces e meigas
Me mantém os olhos abertos
Me dá a insónia por companhia
Me ampara as fraquezas do dia- a-dia
E me faz ter alguma paz…
Gosto do silêncio que a noite me empresta
Quando o barulho quase me arresta
E me desfaz a vida ficcionada
Gosto quando se acende e me ilumina
Para que na escuridão veja melhor
E fico tão apreensiva e angustiada
Quando se aproxima a alvorada
E fico à mercê de tormentos alvos
Porque não gosto da claridade reluzente
Do sol teimoso que me torna transparente
E revela uma fragilidade que teimo esconder
Prefiro a noite e a escuridão
Onde é tão fácil passar despercebida
E pela penumbra ser protegida...
Sinto-me bem na noite e não quero dormir
Fechar os olhos não vou mais permitir
Dormindo, corro o perigo de sonhar contigo
Por isso está decidido, nunca mais dormirei
Ficarei de vigília ver as horas a passar
Sem dormir, sem descansar
Esperando o dia expirar
Ansiosa pela minha noite

Hipnose

Hipnotizada contemplava
o sono do meu anjo
Tudo eram silêncios
Só um leve arfar esvoaçava no ar
Ora leve ora acelerado
Quem sabe se bafejado
Por um sonho épico
E eu serena, sentada
Envolvida em meia-luz
Numa tela que seduz
Olhava extasiada
Ansiando a alvorada
imbuída de certezas
tão bem espalhadas
numa cama desfeita
numa espera sincera
num beijo em suspenso
Desenhado pela quimera.
E toda a noite te velei
Amparei o teu sono
Como se fosse meu
Deixei-te dormir
Na tua calma
Sorvi-te a alma
Só de te olhar
E queria ter-te nas mãos
Moldar-te como o barro
Beber-te de um só trago
Envolvida em ansiedade
E na verdade, acordei, era um sonho
Que no sonho eu sonhei…

Mulher de gelo

Chegou o inverno com tanta firmeza
Anunciando tempestades e vendavais
E fustigada fui com chuva, vento e muito mais
O frio, a neve a remexer em corrupio
O meu cabelo a matizar e clarear
A alma a esfriar, o corpo a desfalecer
E sem que me pudesse mexer
Resignei-me e deixei-me trespassar
Deixei o frio penetrar
e lentamente enregelar
Até me transformar
numa mulher de gelo
Gélida, fria, inerte, glacial,
Insensível a qualquer meneio
Gesto, promessa, olhar, anseio
E no império do gelo
Receio nunca mais derreter
Desta forma que se moldou
E tudo porque o inverno chegou
Saltando outras estações
Antes tudo era Primavera em flor
Um Verão tórrido de amor
Mas o Inverno assomou com tanto vigor
Destruindo a afeição florescente
Genuína, sincera, transparente
Que agora jaze congelada,
no frio enterrada
E só por nós lembrada…

Eu

Começo a despedir-me lentamente
A dizer adeus ao que sou
Despeço-me de mim estou de partida
Levo comigo uma mão-cheia de nada
Uma vontade inconformada
Uma utopia contrafeita
Que tanto impele como enjeita
Não me quero ver em breve
Que seja uma jornada prolongada
Uma ausência demorada
Talvez sinta saudades de mim
Ou talvez não seja assim
Contudo preciso ir embora
Apartar-me deste corpo agora
Sair da minha órbita
Dar-me um tempo, dar-me um espaço
Dar-me descanso de mim
Estou tão cansada de me ouvir
De me ver, de me sentir
E quem sabe se regressarei
Ou se por lá ficarei
Na terra que sempre almejei...

No decifrar

Tens uma vontade de me definir
Determinação em me decifrar
Como palavras cruzadas
De um qualquer jornal
Como se eu fosse um enigma
Fazer-me livrar do estigma
De instável e sentimental
Podes procurar onde quiseres
Jamais vais encontrar a solução (porque)
Sou água que te corre entre os dedos
Sou a âncora dos teus medos
Areia que foge entre as mãos
Água do mar que não se cansa
Quando toda a vida balança
Maré baixa, maré cheia
A crente e a ateia
A tempestade e a bonança
O desconfiar e a confiança
A inquietação e a quietude
O defeito e a virtude
E quanto mais me tentas encontrar
Mais me perdes, mais te perdes
E quanto mais tentas me conhecer
Menos conheces, mais te enganas
Porque há pessoas assim
Que são a pergunta e a resposta
A escarpa e a encosta
Impossíveis de escalar
Impossíveis de decifrar…

Botão

Apetecia-me desligar o botão
Ter o off sempre à mão
Poder sair de difusão
Como algo natural
Era tão bom ter um botão
Que pudesse desligar
E que desse para apagar
Certas memórias e histórias
Um botão bem destacado
Tantas vezes pressionado
quando o programa é um fracasso
e o amor é o erro crasso
que mais vontade tenho de cometer
Queria desligar o botão
Esse botão indicador
De ecrãs ao abandono
Projectos sem retorno
Cheio de indício e revelador
Estou com o comando na mão
Impasse em premir o botão
Fazer zapping à minha vida
Sintonizar a minha estação
Vou comprimir o botão…??

O ódio e o amor

Eternos namorados
No banco de jardim abraçados
Promessas de amor, juras eternas
Sentimentos celestiais, realidades terrenas
Numa nuvem de hesitações embrenhados
Verdadeira ou falsamente apaixonados
Uma relação de egoísmo ou partilha
E muito me chamou a atenção, entre riso e discussão
O ódio e o amor, juntos de mãos dadas
Numa harmonia sincopada, iras bem disfarçadas
É difícil separá-los, as fronteiras são delgadas
É grande a atracção, maior a aversão
Onde um está, estará sempre o outro
À espera de protagonismo
Pronto a lançar seu par ao abismo
O seu grande momento de glória
Este casal sempre fará parte da história
Eles são o ódio e o amor…

Ruínas

Um impulso e tudo se arruína
Talvez não seja acção tão repentina
Deve ser algo que pouco e pouco corrói
Vagarosamente se destrói
Uma derrocada anunciada
Que todos os dias se alimenta
De desgostos e contradições
Mal-entendidos e más intenções
Tudo são implicâncias e embirrações
Todos tentam vencer com as suas razões
Um desfilar de obsessões, teimas e manias
Que marcam as noites, mancham os dias
Guerra mais do que declarada
Em que ninguém sairá vencedor
O caminho trilhado é o da dor
E no meio dos destroços e da devastação
Alguém consiga salvar o dom
O dom que temos que é viver…

Adeuss

Abro a porta à precariedade
Aceno-te, estás volúvel
Barco prestes a naufragar
Tens vontade de alegar
Que tudo foi culpa minha…
Não me sinto incomodada
Nem vou fazer nada
Além de te observar
a ser tragado pelo mar
Em vagarosa agonia,
em moroso afogamento
E esta crueldade
Só te devolvo porque era a tua
Podes naufragar, afundar
Apenas vou gesticular
Um singelo adeus
Não pretendo salvar
O que não tem salvação

Tudo igual

Uma voz se levantou
Dentre as vozes murmurantes
De convicções vincadas emproa
Faz de si centro de atenções
Gesticulando pregões
Faz calar os burburinhos
Surgiu a passadeira encarnada
Que de pouco usada
Destila cheiro a bafio
E estava por um fio
O discurso entusiástico
De calorosos aplausos
Lições de vidas mal estudadas
Perpetradas na pressa do acaso
Finda a dissertação, ombros encolhidos
Tudo volta ao seu sentido
Sem que as palavras fizessem prurido
No ouvido ou em sítio algum...

Amo as palavras

Amo as palavras
E mesmo assim abandonei-as
Não as contive, deixei-as
Não impedi que elas fugissem
Deixei que fossem, partissem
Fiquei muda, sem ter o que dizer
Amo as palavras
E mesmo assim deixei-as morrer
Como a cinza voa exposta ao vento
E o mar arrasta a areia sem intento
De algum dia a fazer sua
Quis deixar as palavras livres
Para outras bocas, outras prosas
Que serão sempre mais saborosas
Que qualquer palavra minha
Amo as palavras mas não as quero
na minha boca a disparar como balas
A aniquilar, fulminar, exterminar,
Qualquer ser vivo
E por isso sigo sem palavras
Porque sem palavras serei mais feliz

Tristeza

Estou abandonada à tristeza
não é um acto de cobardia
uma fuga ou uma desistência
nem sequer uma cedência
apenas preciso me entregar
ceder o meu corpo à amargura
chorar copiosamente
não perdoar às lágrimas
obrigá-las a cair uma a uma
em fila, em jorro, em catadupa,
nem uma ficará por chorar
e quando assim presenciar
brotará a nova força
iluminar-se-á o meu caminho
aquele que já percorri sem me lembrar
em que o sofrimento não terá voz para me calar...

No sorrir

Consegui esboçar um sorriso
Não saiu cá de dentro,
não foi sincero
Um sorriso falso e austero
Um esboço ténue, franzino
Sem gosto, nem sabor, nem caminho
Fios pendentes puxaram
os lábios a sorrir se obrigaram
retribuindo a uma piada
Mas no minuto subsequente
O rosto voltou a descair dormente
Assumiu o seu posto,
Sisudo e bem desenhado
Sombrio, severo, pesado
Numa calma aparente
Sem que o vício sorridente
Pudesse sequer se abeirar
E num falso sorrir posso até descobrir
Alguma capacidade de reacção
Não quero antecipar cenários
A vida segue em delírios arbitrários
Deixemos o esboço evoluir
Para sorrir ou não sorrir

Era uma vez

Era uma vez um amor
Que morreu sem ter nascido
Que sucumbiu ao sucedido
Um amor que se revirou
Num sintoma abortivo
E perdeu-se nas entranhas
Da mãe natureza
Essa que distribui a beleza
Aos predestinados a amar
Era uma vez um amor
Estava tão bem acarinhado
Protegido, aconchegado
Um amor embrionário
Que tinha tudo para nascer
Forte e saudável
Era uma vez um amor
Que com amor foi concebido
Mas morreu sem ter nascido
Sem ter sido dado à luz
e mesmo sem existir
é um amor que ainda me seduz

O meu coração

Meu coração enclausurei
Numa caixa bonita e bem decorada
Está fechada, mil vezes acorrentada
A chave para longe foi arremessada
Para que não me sinta mais tentada
A abri-la para o libertar…
Vai ficar trancado por tempo indeterminado
Longe de sentimentos e atribulações
Parado, sossegado, sem batimentos ou emoções
E sei que conseguirei viver melhor sem coração
Se afinal dele nada mais espero
E ele nada mais faz tenções de me dar
A não ser arritmias e dissabores
Falsas alegrias, espinhosos amores
E se a cada momento ele me trai
Ora em passo desconcertado
Quando quero ser prudente
Ora em passo acertado
Quando quero o inconsequente
Por tudo isso será castigado
Por isto ficará em cativeiro
Não terei pena nem compaixão
Deste tonto coração

Criatividade

Dissolvo-me velozmente
Numa efervescência criativa
Já mal me consigo distinguir
Acho mesmo que deixei de existir
Para ela se emancipar
Dar um passo em frente e se revelar
Porque se eu insistisse em existir
Ela sentir-se-ia envergonhada
E nem mais uma palavra me faria escrever
Assim cedi-lhe todo o meu tempo
Dei-lhe todo o ânimo e incentivo
Embora nela continue emaranhada
Permanecendo, contudo, sossegada
Deixando-a discorrer sobre todos os temas
Deixando-a escrever freneticamente os poemas
Que a mim jamais seriam imputados
Deixando a criatividade bailar desprendida
Sem compromissos produtivos, imperativos
Ela pode ser quem quiser
Um pouco sacra ou libertina
Livre de escrever sem se importar
Se vai ferir ou melindrar
Sou apenas espectadora
Uma passiva observadora
Dominada e reprimida
Assistindo ao desfile de palavras
Pertença de outro alguém e de outra vida

O teu olhar

Tornou-se angustiante contemplar o teu olhar
Não esse que sempre trazias colado a ti, como lapa
Que não largavas nem por um punhado de promessas
Ou palavras ardilosas pejadas de embuste
Que reluzia na escuridão opaca das noites
E ofuscava a claridade alva do dia amanhecido
Mas o que agora revelas tão distante e obsessivo
Sem fulgor, sem lustre, apagado, cinzelado
Manchado de incerteza, vacilante, maculado,
um olhar vago e profanado, envolto em desmazelo
sem empenho em continuar, sem desvelo…
Poderei eu voltar a contemplar o teu olhar
Sem a angústia de mim se apoderar?

Para ti

Entrego-te hoje esta saudade
Não a quero sentir, é toda tua…
Para que saibas do que falo
quando as lágrimas marejam os olhos
o coração palpita desorientado
Todas as atenções se concentram no relógio
que com insistência sempre se atrasa
e caminha em valsa lenta…
Entrego-te hoje esta consumição
para que entendas quando calo
e deixo o corpo falar por mim
Recebe-a de braços abertos
acolhe-a como familiar ausente
cuida para que quem a sente
jamais sinta o que eu senti...

Mar

Se na distância aparecesse a acalmia
era essa que escolhia
porque o mar revolto insiste
Em derrubar-me com a ondulação
Antevejo que não posso fugir
Estou tão presa a esse olhar
A essa forma de falar
Estou apaixonada por ti ó mar!
E se a paixão fosse recíproca
Se das tuas palavras um marulho
Um movimento de harmonia
Um gesto sem orgulho
Talvez conseguisse decifrar se és meu, ó mar
Ou se pertences a qualquer lugar…

domingo, 28 de junho de 2009

Adeus

O adeus perpetua a despedida
dolorosa em todas as feições
um adeus deixa a alma condoída
um adeus é fonte de emoções

Adeus amor, estás de partida
sinto-me presa a compulsões
sem nada fazer, sem saída
dando palco a confusões

A minha alma vagueia perdida
entre a negrura e os clarões
entre a subversão e a honradez

Adeus amor, e abre-se a ferida
extinguem-se as nossas ambições
enxugo as lágrimas que nascem de porquês

Passividade

Olho com passividade para este dia
nada me tira a calma da alegria
sinto-me serena, deixo o tempo passar
nem pelo futuro me deixo inquietar

Tenho o coração suspenso na fantasia
o sabor dos teus beijos a maresia
os sonhos em aberto por realizar
o teu ombro amigo para chorar

Só eu sei o que tenho para esperar
mas não me incomoda essa utopia
o do que dela possa brotar

Enquanto tiver o teu olhar
a passividade deste dia
vai eternamente triunfar

Saudade

A saudade é maior tormenta
que talvez o amor não correspondido
pois se ele existiu, algo alimenta
e lembra o que foi vivido

A lembrança no corpo rebenta
deixa o coração aturdido
há sempre uma esperança que sustenta
o iniciar do que tem que ser esquecido

Nada existe contra o desamor
nada que sossegue o sofredor
palavras leva-as o vento,

Nada existe que cure esta dor
porque me deixaste meu amor?
a tua lembrança é o meu sustento.

O meu sono

Sono perturbado e eterizante
os sonhos de névoa e irreais
o amor, desejo dos mortais
a ele aspiro, anelante.

Um sonho enfernizante
sonhos, pesadelos letais
se não os desejo, tenho-os mais
numa fatalidade agonizante.

Sonho transtornado
que faz meu ser alienado
acordo em decomposição,

Sono malfadado
tudo por ti causado
são agonias do coração.

Sossega

Sossega o teu coração ourado
no meu colo baço e embriagado,
sossega a tua alma macilenta
neste colo que acolhe a tormenta,
sossega o teu espírito debelado
porque o meu colo acolhe-te, meu ser amado!
Sossega a visão dessa quimera que te assusta
que não é mais que uma ilusão vetusta,
sossega os teus membros lassos
que o mundo inteiro e eu acolhem os teus cansaços,
sossega o teu corpo amortalhado
que o meu não está em melhor estado.
Sossega! Vem ter comigo sem medo,
porque eu compreendo o teu degredo.
Sossega, sossega, sossega, amor!
Enquanto eu viver nunca mais sentirás dor!

Achamento de um amor?

Extenuada da existência nesta orbe que é a terra
nada me acalentava, a chama extinguia-se, esperança esvaía-se.
O teu achado? Portentoso e divino talvez.
Padecem dias longos e exasperantes
e dentro de mim uma alvoroçada paixão brota,
tão inquieta como mansa, tão colérica como ardente,
E nesta alucinação, no precipício dos dias
na emancipação das noites, o dessassossego atenua-se.
Quero dilacerar o desejo de querer sempre mais,
quero quebrantar a loucura da sempiterna insatisfeita com o amor.
E se tu fosses como eu!
Não! O teu talhe desavindo com o meu,
um antagonismo caro, uma contrariedade absurda
e tudo isso se dissolve quando digo, amo-te.
Porque não me dizes também?
Porque tenho que extorquir dos teus lábios tal palavra?
Estou amofinada, aperreada...
Furta-me a esta angústia, arranca-me desta opressão.
Este amor é um sonho mal sonhado, o nosso fado está mal traçado
mas a minha vida continua na tua mão.

Um momento

O meu corpo imóvel deitado
numa cama de veludo pintado
vermelho vestido, vermelho sangue, marchetado,
chegas devagarinho sem sinal de desalinho
e deitas-te comigo numa paz sem castigo...
Não há palavras cruzadas, só mãos envergonhadas
que entrelaçam o corpo nú , absorto.
Nítida timidez dessa primeira vez
em que sopras o pecado,com as mãos semeado(apenas).
A beleza que alçanças ao meu alcance não está
oculta nas sombras irrompidas da manhã,
um quebranto natural invade o teu olhar
como quem morde o lábio,com um leve sussurrar,
fico sem palavras perante a dúbia mudez
que te acolhe nos braços de quando em vez.
E partes de regresso à tua vida gelada
onde ficas sossegado, alienado no nada,
sou um simples fio pendente na tua vida vazia
sem amor, nem rancor a tua presença alivia
como um sopro de luz cinzento mesclado
desejo-te comigo, desejo-te a meu lado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Anseios

Desejo que o dia passe por mim
Em bicos dos pés, sem fragor
Sem o mínimo abano ou odor
Que roce as mãos uma na outra
Se a felicidade é coisa pouca
E o envelhecer fizer parte
Do mesmo saber da mesma arte
Desejo que o dia se detenha
em movimentos de câmara lenta
Sem vergonha intimidado e controlado
Por motivos programados por mim
Tão lentos e demorados
retratados em fotografias
abandonadas ao acaso
extraídas noutro século
contudo contemporâneas
tão usuais e tão humanas.
Desejo que o mal que me fazem
Seja fruto da imaginação
do tempo palmilhado
outrora pela alucinação
Tenho a cabeça a estoirar
De pensamentos e difamações
Que mal cabem dentro grilhões
E sinto-me empurrada
De umas mãos para outras
Boneca de trapos usada
figura de fábula mal contada
Sem conseguir soltar um suspiro
Subo as montanhas do tibete vou em retiro
Indiferente a toda a intriga
que me faz acreditar
Que sou um fio pendente no tecto
Que a qualquer momento pode cair de cansaço
A acontecer que seja no teu regaço
E não desejo mais sentir-me
Um papel amarrotado nas mãos da ganância
Uma folha outonal a deambular na ignorância
Castanha e gasta com os trambolhões
Sujeita a viver de contradições
Desejo que os meses e os anos
Sejam fruto de umas conjunções
Tudo menos humanas
E que o dia passe por mim
Se assim o desejar
E que se me quiser levar, aceito…

terça-feira, 2 de junho de 2009

Despertar

Vivia numa apatia pegada
O meu olhar era feito de nada
O coração em debandada
E nada disso me incomodava
Só queria o meu sossego
A sensação de desapego
Pouco tarde ou pouco cedo
Erguendo os ombros ao medo
Responsabilidades assumidas
Tarefas minuciosamente divididas
Beijos secos sem contrapartidas
Sombras geladas sem expectativas…
Mas um dia sem contar
Sem saber explicar
Dei por mim a imaginar
Que te estava a estrangular
A apertar-te o pescoço, ó vida!
Vida queda, muda, lassa
Com uma vontade que não passa
Rasgando-te de fio a pavio
Esquartejando-te de um só desvio
Gritando e praguejando:
Porque me abriste os olhos?
Era tão mais fácil se não falasse
Se tudo continuasse igual
A mesma apatia, a voz vazia
O coração parado, o olhar toldado
Se não tivesse conhecido o significado
Da palavra amar…
Agora queimo-me na ansiedade
Não durmo, não como, vivo na mentira e na verdade
E é assim que o medo desperta do seu sono
E se desfaz uma montanha com um eco
Nada mais faz sentido e levanta-se o rumor
Que ao conhecer o amor jamais voltarei ao que era…

Dona Dor

Conheci-a faz tempo
Pareceu-me bela no momento
Veio lesta e mansinha
Até bebemos caipirinha
Julguei-a minha amiga
Uma boa rapariga
Poucos dias passaram
Até mudar a opinião
Até saber que afinal
Ela é dona bem conhecida
Nem sempre bem-vinda
ou compreendida
Só tenho a questionar
Porquê a mim dona dor?
Ela diz que foi mandada por ti
Que veio fazer-me companhia
Para eu me lembrar que um dia
algures escrito noutro tempo
se formou e esfumou a nossa história
pra que jamais apague da memória
tendo dona dor como sombra e guia…
E agora mais conformada
aqui fica apresentada:
Hoje vos apresento a minha dor
Cumprimentem-na se faz favor
Com dois beijinhos com sorrisinhos
Faz parte da etiqueta da boa educação
Se forem cavalheiros beijam-lhe até a mão
A mão da D. Dor, a mão da D. Dor....
Houve um tempo em que me inquietei
Me contorci e desesperei,
por ela ser a minha sombra
por não dar um passo sozinha
Mas cada vez mais me convenço
Que somos irmãs gémeas
Que nunca se separam
Irremediavelmente ligadas
pelo mesmo cordão umbilical
Dona dor vive comigo
Eu vivo pra dona dor
Sinto o mesmo que ela sente
Ela de mim não tem pena
Eu dela não faço acaso
Viro as costas não lhe falo
Nem adianta falar
que apenas com um olhar
Ela me domina e faz render
Dona dor, nas suas mãos tem o poder!

O risco do arrisco

Até arriscaria
Se soubesse quanto tempo
Leva a desfiar um momento
Depende do relógio usado
Se o ponteiro anda ou está parado
Ou até rodopia em sentido inverso
E no reverso da medalha alguém se reinventa
Auto- colore com azuis e magenta
Até arriscaria
Se soubesse que perder não faz sentido
Quando a ambição é bem medida
Quando alguém gritou “partida”
E os pés não descolaram do chão
Porque algo tocou a intuição
foi soprado ao ouvido por um anjo
O da guarda ou da discórdia
Assertivos como devem ser
O risco do arrisco
Pode escrever-se com um rabisco
Com letra de doutor
Letra de primária
erros de palmatória
o arrisco da história
fica escrita onde o povo quiser
Até arriscaria
Se soubesse que o amor
É duradouro além da morte
Que alguém inventou
Que um dia teremos um fim
e nada disso é verdade
Que existe na eternidade
um lugar reservado para mim
Até arriscaria
Se soubesse de trás para a frente
Em que terra se planta a semente
que nunca tardou a dar seus frutos
com que linhas se cose ou descose
o futuro que receio
e até arriscaria
se o risco do arrisco me fizesse companhia…

Sonho Improvável

É tão improvável que apareças
Que venhas fazer-me companhia
E na minha teimosia
Acalento e dou vida à esperança
Fico sentada com o olhar fixo
Coração alerta, esperando…
É tão improvável que me dês um sinal
Que me leias os pensamentos
E mesmo assim espero
Sem o mínimo cansaço
Desânimo ou fraqueza
Confiança no regaço
E o íntimo que não sossega.
Possuo o dia e um dia não chega
Para colocar as ideias em ordem
Quando as horas são tão vulgares
Se não estiveres comigo
E é tão improvável que venhas falar
De uma vida que não existe
De presumidas atitudes
De umas e outras vicissitudes
E mesmo que não venhas
Os meus olhos deliram
À simples passagem de uma imagem
De uma lembrança veloz
Ágil estrela cadente
Em que desfilas imponente
De sorriso vincado e olhar melado
Que se dissipa com um dedo a estalar
Pareço uma sombra a acordar
De um sonho tão improvável

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Irritação

Hoje sinto-me irritada
Insuportável, mal -humorada
Uma palavra é uma granada
Que nem precisa ser lançada
Para explodir nas minhas mãos
Impaciente com o ruído
E qualquer prurido é uma praga
Que mina e destrói
Hoje estou intempestiva e agressiva
Fechada a conselhos ou a sugestões
A mensagens ou insinuações
Só me visto de rebeldia e assisto
À mesma ideia a recalcar
E não faço ideia porquê
Ou talvez saiba e não queira admitir
Que há uma saudade a emergir
Uma angústia a sobressair
Não quero assumir
Que me sinto aflita porque não estás aqui
Hoje é só choques frontais
Bato de frente sem me importar
Se estou a ferir ou a magoar
Não ouço nada nem ninguém
Só esta saudade, esta dor a desgastar
Me faz continuar a te procurar
A vasculhar, remexer, fixar
E mais uma vez te vejo parado
Sem resposta nem recado
Ausente, distante, desligado
O meu coração despedaçado
Somente concentrado em ti…

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Existe

Havia um sorriso em suspenso
Uma palavra por formar
Um olhar que não seguiu o seu curso
Uma atitude por tomar
Há sempre algo por fazer
Até por acontecer
Se existe vida e ideias a pender
Há uma voz que quer falar
Num círculo fechado
Um som a esvoaçar
Na parede entalado
Um coração a balançar
Ninguém está lá para o amparar
E ele morre a suspirar
Havia uma norma em segredo
Um acordo tácito em aberto
Duas mãos apertadas
Selando a negociação
Um trato tão gentil
E nesse estado febril
Alguém queria dizer um ai
Nem saiu nem sai
Está lá o vazio
À espera de preenchimento
Quem escolher ficar
dá as mãos ao sofrimento

terça-feira, 26 de maio de 2009

Esse

O tempo passava por mim
Tão ingénuo e sossegado
Entrelaçado comigo num só
Sem me incomodar,
Sem que pudesse duvidar
Do que quer que fosse
O tempo passava por mim
Sem grandes conversas
Calado e prostrado às evidências
Tudo decidido trilhando o normal
Mas sem que nada o fizesse prever
Só de te ouvir dizer
Que somos tão iguais
as coisas mais banais
tornaram-se especiais
O tempo deixou de passar por mim
Parei a teus pés curvada
Pela tua luz ofuscada
Sedutora e seduzida
Sem espaço para pensar
Sem mais nada a duvidar
Tudo tão errado e estranhamente certo
Milimetricamente traçado e recto
Como se alguém guiasse a minha mão
Me ajudasse a escrever
As linhas desta história por nascer
E num lapso de tempo
Apenas num breve instante
Umas dúvidas se emanciparam
Alguns porquês ao ouvido me gritaram
Tapei-os às insanidades
Não quero respostas nem perguntas
No tempo quero ficar parada
Minimamente preocupada
Mesmo que isso me leve a nada…

domingo, 10 de maio de 2009

Conversas Vãs

Um dia nublado, um sol colado
No picotado do poente
Hoje estou contente?
Talvez assim não seja,
sempre que preveja
Mais uma batalha campal ,
entre o bem e o mal...
Para variar estamos frente a frente
Sem ideais nem ideias em mente
Como dois corpos abandonados à intermitência
Quando a eloquência nega o seu lugar
Vamos falar antes que o dia se acabe
O sol se ponha, a escuridão avance
E nos cubra de penumbra
Colocar os pontos no is
Como se os is fossem os pontos
que faltavam para nos ajudar
Vamos falar antes que se esgote a palavra
e não tenhamos mais nada a contar e a dizer
deixar cair essa monotonia
em que mergulhamos um dia
saber sair tal como soubemos entrar
É urgente um entendimento
Sem que o lamento seja arma de arremesso
Em que tropeço sempre que peço mais atenção
Vamos falar? Começo eu? Começas tu?
Dou-te a palavra, pretendo ouvir
Os verbos estão à porta mas custam a sair
Sons esgazeados e descompassados
Desordenados sem qualquer correlação
Parece que a conversa foi em vão
Fabrica-se outra discussão
Adeus …

Suposições

Supondo que vais ouvir esta música
Supondo que vai entender o que digo
Consigo explanar o pretendido
Vou começar pela última linha
O início perdeu todo o esplendor
É assim em todas as vidas
Porquê fazer igual na nossa?
Vamos fingir que está tudo bem
Que me declaro a ti como adolescente
Como o sol incandescente
sem saber se volta ao poente
Sem saber se amanhã lhe apetece nascer
Depende como o dia de hoje correr
Depende se me vais entender
Como eu sempre tentei fazer

Supondo que a música te toca
Não no coração mas noutro lado qualquer
Onde não tenhas sentimentos acumulados
Bocados de vida armazenados
Sem lhes ter dado sentido algum
Sem lamechices, ou idiotices
Como às vezes me fazes crer
Sem tristezas ou melancolias
Sem lembranças ou fotografias…
Supondo que a dúvida nos persegue
E quer deixar o seu rasto,
Destituindo do trono o cansaço
Que deixaste ao abandono
Sem razão e sem dono
Sem regresso sem retorno
Triturando as incertezas
Entregues a suposições

Excesso de Amor

Não pago!
Fui multada por excesso de amor
Que desrespeito das forças da ordem e da lei
Um abuso de confiança e até nem sei
Como pode isto ter acontecido ao meu amor?
Hoje em dia é tão raro, tão escasso
Que abuso de autoridade
Fazer-me parar com este amor
Tenho tanto para dar e esbanjar
Como pode haver limite instituído?
O conta –amor tem que ser banido
Como posso ser travada?
Por um amor que tanto desejo
Quando tanta falta faz
A quem nada tem
a quem luta diariamente
A quem mendiga
para um pouco dele conseguir

Não Pago!
Fui multada por excesso de amor
Mas não Pago!

Se tiver que ir a tribunal
Farei um pedido formal
Para que seja ouvida
No tribunal europeu dos direitos do homem
Irei até às últimas consequências
Não farei quaisquer cedências
Gritarei que fui mal sancionada
Que o amor não merece a pena aplicada
E que sou eu a sua maior aliada…
Fui multada por excesso de amor
Se eu o possuo, deixem-me dá-lo, doá-lo
Fazer com que seja bem distribuído
Como obra de caridade,
Ser apenas uma voluntária do amor…
E que seja aprovado um decreto
Um texto concreto em que seja legal
Exceder todos os limites
Sem multas ou castigos
Penas ou repreensões
Deixar fluir o amor
Em toda a sua irreverência
A toda a velocidade
E que amar de verdade
A única consequência…

sábado, 9 de maio de 2009

Invariavelmente

Invariavelmente vamos falar de amor
Como se a boca estivesse condenada
Inequivocamente programada
a tentar dizer o que não tem dicção
a contorcer-se de indignação
tendo o amor a imperar e a controlar

Invariavelmente vamos falar de amor
Como um guião já escrito
Um berro que já foi grito
A irromper da obscuridade
Uns lábios a deslizarem um no outro
A saborear um beijo que soube a pouco

Invariavelmente vamos falar de amor
Como se não houvesse outra conversa
E a nossa vida estivesse submersa
Em apenas duas gotas de chuva
Que não chegam para afogar
Mas que fazem transbordar

Invariavelmente vamos falar de amor
Tema mais que abordado
Mais que falado, mais que vivido
Sentido, sofrido, inventado
Vamos falar de amor até dizer chega
O que jamais chegamos a falar

Aparências

De que adianta falar quando a voz é estéril
E o ventre a acompanha nessa condição
De que adianta o esforço como obrigação
Segurando aparências só com uma mão
Fico muda e rendida às nossas evidências
Faço minhas as tuas reticências
quando a frase até nem era para acabar
Não me queres nem me largas
Grudado nesse vício de me consumir
E fazer-me sumir
Como nuvem aspirada pelo sol
Fico escondida dentro deste corpo
Revelo a minha calma
levanto a pontinha do véu
que cobre a minha vida
Ninguém merece conhecer-me
ninguém merece conhecer-me
Debitas frases mais ou menos concretas
Não avisto andamento das esferas secretas (que dizes possuir)
Minha doença é das crónicas
Nem me atira do abismo nem me dá dias de folga
Faz questão de me lembrar que nos pertencemos
E que juntas viveremos
não felizes para todo o sempre
Esta paixão não é recíproca
É um amor platónico que deixei alastrar
Como faço para recuar se já dei um passo em falso
E soa a falsa esta resolução
Foi assim que escolhi...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Jogo Viciado

Até segunda, digo com sorriso amarelo
Muito desejo que não venhas mais
Que fiques numa cama qualquer
Bocejando e cortejando quem quiseres
Até mais logo, digo remoída
Revoltada com essa parva saída
Pensando e não podendo retorquir
Guardar no íntimo quase a explodir
Algo que não caiu em saco roto
Amar-te é como jogar no totoloto

Um jogo altamente viciante
Gasto-me a um ritmo alucinante
É sempre a perder e nunca ganhar
É jogar com insistência e nunca acertar
1, xis 2 isso fica pra depois
vem agora ter comigo não consigo decifrar
os números secretos que me vão fazer chegar
ao mais alto patamar... eu não sei jogar!!


Até nunca mais, digo com franca mentira
Ver-te pelas costas, rodopiando para longe
E não consigo perceber essa tua vontade
Em regressar ao jogo e voltar a lançar
os dados viciados, os dados cruzados
fazer uma batota, como quem não quer
fazer –me perder a minha condição
de mulher esperta que não sabe amar
nem jogar!! Nem jogar!!
e continuo a amar, como se nada se tivesse
passado e fosse isso mesmo, somente passado
morto e enterrado pra lá das mesas de casino
pra lá dos baralhos de cartas, do poker, do joker
eu não sei jogar!! Eu não sei jogar!!