quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Chuva

A chuva cai,
ora de mansinho, ora de rompante
Chuva bipolar, de humor variado
Tão doce em canto delicado
E de impulso, indignada sova o vidro,
Pula entre as pedras da calçada
Acarinhadas como a filha desgarrada
Escorre nas paredes numa dança sensual
Entrega-se à terra seca num invernoso ritual
Enlameia os pés de quem corre, anda, pisa o chão
Chuva que se infiltra, agente secreta
Sem rodeios ou cerimónias, tão directa
Fala sem falar, desmaia em vontade imperial
Chega, fora de tempo ou no seu tempo, é normal
Oblíqua e sem receios, incita os rios à insurreição
Nos seus leitos adormecidos no abafadiço do verão
Faz humanas vozes se doarem ao praguejo
Que não era este seu desejo, recebe-la de braços abertos
E sem lamentos concretos, todos se resignam e aceitam
A chuva chegou, e hospedada está na sua vontade
E somente a ela cabe, decidir o chegar e o partir…

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