domingo, 4 de maio de 2008

Amor-Cometa

Seja dia, seja noite
tu colado à lembrança
como um sonho de criança
como as vozes de alguém, quem?
e quando a sombra souber cantar
e quando as nuvens souberem dançar
tu sabes que eu cheguei, envolta em mistério,
em precipitações terrenas, em brisas tão amenas
e nem precisas, e nem precisas
nem precisas te inquietar... porque
a minha presença far-se-à notar
o meu perfume inundará um ar
invisível a teus olhos, mas tão presente
leveza do meu ser, encontro mais que cadente
tal qual dois cometas, explosão quântica celeste
universo de constelações, adulando o agreste

desci do pedestal, mais parecia Saturno
desci à esfera do mal, a este árido mundo
só para te ver, pra te beijar, só para te sentir
levei-te comigo para um mundo que há-de vir...

Ascendi com pressas dignas de registo
Deixei em ti o frémito e um toque vibração
Similar a terramoto, ou violenta erupção
de vulcão, cinza e lava que não lava o coração
saudade é a palavra que não tem tradução
noutra língua, noutro mundo, noutra órbita
é sentida simplesmente, sem arrolar e soletrar
amada sem reservas com a boca a arquear
suspirando por algum suspiro milenar
à distância de milhões de anos –luz
onde o teu rosto permanece e reluz...

Outro igual

Bom dia! Acordei e já nem sei
porque que fico tão agradecida
de continuar a viver esta vida
de respirar sempre o mesmo ar
de todos os dias me enganar
a respeito das pessoas
Pensá-las más e nunca boas.
Não sei como salto de euforia
Se no segundo de cada dia
Fico senil e impertinente
Acelero uma velhice decadente
Com a desregrada carreira
Que a lado algum me conduz
Nem me seduz, o meu amor é outro
Traio-te a cada minuto...

Nem mais um pouco, não consigo conceber
Labutar e lutar por um ideal que não é meu
Não consigo render e perceber que o faço sem vontade
Continuo presa em liberdade...

Com impulso salto da cama
Um novo dia, será que é desta vez?
Que acabam os porquês, os porque não,
Que me liberto, me realizo,
chego com um dedo ao céu
Passa o tempo, me apercebo que de nada
valeu mais esta espera, caí noutra cilada
Bem armada pela minha ansiedade
Desatino com dúvidas a ir e vir
Esperando a noite para dormir
Esperançada por nova oportunidade
Saída dos braços da mãe piedade
E é assim que vivo em permanente
sobressalto do agora e do somente
rindo da tristeza, chorando da alegria
que ainda não tive...

Final

Esmaguei o teu orgulho
entre os meus dedos
Pisei-te a vaidade com os pés
Eras mais um soldadinho de cartão
Que obedece cegamente ao capitão
Já só resta uma sombra fugidia
Mas bem podes esquecer que algum dia
Foste efémero e tão eterno ao mesmo tempo
Foste a luz que cega e deixa ver por um momento
Jamais acreditei que voltasses ao que eras
Após o devaneio, já só ficam as quimeras
Difíceis, longínquas, e tão austeras...
Dois verões seguidos e três primaveras
O sol comeu a noite e tudo ficou seguro
Se ficasses comigo tinha-te dado o mundo
Opção mais que real, mistura arrependimento
as horas são fatais pra matar um sentimento
E de momento nada mais há a dizer
A reticência é a melhor resposta que se pode ter

Permaneço muda e calada
Não existem respostas a certas questões
Sou apenas mais uma em dez milhões
que às centenas tem problemas
de rajada saio de casa dou um jeito às melenas
vou desfilar na rua as minhas penas
não tenho nada, mas a vida continua...

Reticente como em frase inacabada
Indecisa na hora de tomar decisões
A separação de dois corações
Nunca é uma explicação pacífica
É uma guerra moribunda e arbitrária
Em que vence o tiro mais certeiro
O míssil esguio e mais ligeiro
Em louvores vendidos aos bravos soldados
Cheios de amor e pátria porém desconfiados
que lutam e voltam a lutar até expirar,
Sem mais nada, a última das perpétuas – roxas
Descobrindo sentido nas palavras mochas
Que vacilam coxas até a ti chegar
Acabou o filme d´esperanças penhoradas
Prós e contras, decisões delineadas
Sulcadas num acto simulado...
Continuo a esmagar-te as aspirações
Continuo a negar –te essas conclusões
Que começam e acabam em ti...

Noite

Quero dormir toda a manhã
Enquanto o mundo gira
Empurrado pela afã
do escuro cintilar
Da noite e escuridão
Onde os meus olhos repousam
A difícil convulsão
a que foram sujeitos
imperfeitos, liquefeitos, atreitos
com as luzes da pista
a perder-se de vista
a cabeça a rondar
outras caras e medos
dormir somente
fugir dos enredos
de uma dança qualquer
no meio de homens ser mulher

Noite! péssima companheira
nos azares aventureira
quem nada teme,
tem a noite anfitriã
enquanto não chega a manhã
Podendo dançar na noite
No escuro estar protegida
Põe na dança a tua vida
Põe na noite a tua mão
Sente o calor, sente a pulsação
Da noite! noite!

cansei o meu corpo
abandonei-o à exaustão
não quero nem preciso
que me peças perdão
o que lá vai lá vai
faz parte do passado
de entreabertas entremeado
de contos mal contados
quero apenas descansar
sem ouvir o tilintar
dos copos partidos
desse abanar de ancas
consentindo pecados
beijos roubados na secreta noite

quero fechar a cabeça
entre fofas almofadas
cobertores de abas bordadas
para esquecer que fui parte da noite
e que a noite foi parte de mim
ser apenas um sono leve e fresco que dorme
e não acorda sem ordenada ordem
Sem prévio consentimento
É chegado o momento de fingir
Não ter nada a ver com esses mundos
E levantar o sossego, nunca mais ter medo
Acordar e sentir-me leve e livre

Amante do Silêncio

Entendo tão bem o silêncio
Que vozes caladas lhe falam
Entendo tão bem o silêncio
Que sons tão altos se calam
É o império do silêncio
Onde me procuro e me encontro
Silenciosa vida ...
Sou amante do silêncio
Assim como sou de ti
Só o silêncio me reconforta
E me renova a energia
Que tu me tiras sem pensar
Só no silêncio falamos sem falar
Nele nos entendemos, em mundos pequenos
Com gestos que insinuam segredos
Dizemos mais do que quem fala
É única a linguagem corporal

Fala-me com a língua
num beijo silencioso
os lábios encostam a dormir
não os acordo, permanece o silêncio
de um silencioso bramir
morde o lábio mas nunca o digas
não perturbes quem dormita
A quietude chama por ti, aflita


Tacitamente digo tudo o que tenho a dizer
com o corpo desenho o que quero fazer
sempre me entendeste, silêncio
bastando um olhar para incendiar
o que o silêncio pede, o que ele ordena
silencioso acto, a malícia não é pequena
sou amante do silêncio em dose serena
e não vale a pena tentar separar
o silêncio do silêncio eles querem-se amar!
Tão envergonhados de exprimir parcas palavras
Usá-las é um desperdício e de tão caras
ficam trancadas na gaveta das memórias
Onde só têm lugar primorosas histórias
Amordaçadas com severas correntes
Oiço o cerrar dos dentes prendendo o som
E o não ouvir ouvindo o não som é tão bom!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Desculpa

Desculpa se te iludi
Se te fiz acreditar
que era dona de algo especial
distante do que é banal
desculpa se te fiz crer
Que as conversas que tivemos
Faziam parte de uma história
de amizade ou de amor
Sou somente uma pessoa
Que não pode amar ninguém
Vendi o coração a retalhos
Tenho os nervos em frangalhos
Desconverso desse tema

Desculpa se te dei a entender
Outra perspectiva a despontar
que era diferente desses pãezinhos sem sal
Que em qualquer boca sabem mal
Para mim o amor é somente
Tema de filme ou de poema
Vida de quem só faz cinema
Algo falso e colorido
Pelas telas e écrans
Que se farta de todas as manhãs
Acordar na mesma cama
Olhar a mesma pessoa
Com necessidade de afectos
Sempre a delinear projectos
Carente e fervente do que poderei dar

Desculpa se pareci ser a ideal
De ideal nada possuo
Milhões de defeitos
Umas e outras virtudes
Nem me interessa que te mudes
Na ânsia de me agradar
No amor nada me agrada
Só a dor que faz sentir
Em mim ficou marcada
Tudo o resto se apagou
Como o trilho da esponja
Que roçava as ardósias
Nos tempos idos de escola
Que jamais voltarão
Agora o que tens a fazer
É tentar me esquecer
Interiorizar que fui um pesadelo
Do qual vais acordar
Já passou!... podes suspirar e respirar de alívio…

Estrada da Vida

Hoje estou aqui perdida
No mapa da vida
Fiquei sem o GPS
O meu carro fez um S
Nessa estrada sinuosa
Que de acidentes é garbosa
Onde toda poderosa
Desfaz sonhos e ambições
Rouba human´aspirações
De subir no seu encalço
Sem ruído sem percalço
Trémula e desengonçada
Encolho os ombros
Não entendo nada !
Tou perdida ... tou perdida ...na estrada da vida

Há boleias que se dão
Aqui tudo se paga
A pé vou, com a incerteza na mão
O medo não me larga
O desconhecido que me assusta
E nas memórias se rebusca
Tou perdida... tou perdida .... no mapa da vida

Neste mapa da vida
Caminhando sem destino
Sem rumo, sem direcção
Escolhendo, selectiva o trilho
Sem saber de antemão
Que o caminho está alagado
Por chuvas torrenciais
Que são lágrimas choradas
P´los meus olhos abandonadas
Nuns e noutros temporais...
Perdida continuo
esta vida não tem recuo....

Imunidade

Peguei no saquinho d´ervas
nas velinhas de cheiro a conservas
Acendi como manda a lei
O teu nome mil vezes, nem sei!
Dei então início ao feitiço
E foi tamanho o reboliço
Quando o mago me disse
Que tu eras imune...
O meu rosto encandeou-se
Com atroz revelação
Dei voltas e mais voltas a pensar
O que fazer para contrariar
Colossal falta de sorte
Antes levar a morte a passear


Estás imune à maldade
Estás imune à verdade
Imunidade... imunidade...
Estás imune à contrariedade
Estás imune à sinceridade
Imunidade...Imunidade


Imune à maldade
E à verdade talvez
Estarás imune ao amor?
E ao que ele nos fez?
Na magia branca ou negra
Um de nós fica a perder
Magoa-se sem querer
Quem nada vai receber
Desfazem-se aos bocados
tantos a desejar-te mal
Tantos a querer picar
Tu a encher e nunca a rebentar
Como qualquer balão
De uma festa de ocasião
Ou até de aniversário
Estarás imune?


Conto os dias no calendário
Pra matar o ser lendário
Que vive dentro de ti
Faltam muitos para terminar
Esta guerra auto proposta
Que continua sobreposta
A todas a nossas vidas?
Infelizmente sou infeliz
E tu continuas imune
Nenhum capricho passa impune
E cada olhar é um fardo
Tão pesado de carregar
Quem te dotou de imunidade?
O diabo concerteza
Não encaro com leveza
De ti só levo a certeza
Que estás imune.... a mim...

On/Off

Hoje estou online
E tão off da tua vida
Símil a um jogo sem uma investida
Jogado num computador qualquer
Vencida pela técnica ou insistência
Perdida na luta da paciência
Saltei fora dos limites informáticos
O jogo trespassou a realidade
Cliquei, segui, andei e não sei
Os downloads que preciso para te reaver

Ando pra fazer reset ao que se passou
Formatar a relação, começar de novo
Nem mil e-mails de declarações
Podem explicar as nossas razões
Para terminar o que não começou
Game over ! Clico iniciar?

Disco rígido, tão duro quanto eu
Meu coração é a disquete que se estragou
Gravei um Cd que se avariou
Perdi todos os dados nada restou
Converti o meu amor em mp3
Essa foi a escolha e perdi de vez
Não há net que me dê guarida
Procura incessante busca falida
No google pesquiso a minha vida

Não basta reencaminhar a relação
É preciso uma boa ligação
Um amor como a banda larga
Que aguenta até uma sobrecarga
De tráfego internacional
E é tão nacional o que procuro
Tiro certeiro ou no escuro?
Um programa sensacional!
Arrependida de me ter lançado
Pra perder, nesse computador, sem querer
É tão grande a dor de não saber...

Ferro

Horas e horas a fio a engomar
Mil vezes nada, roupa enrugada
Gesto mecânico, balanço medido
Estica de um lado encolhe o sentido
Cantarolando cantigas brejeiras
As últimas palavras são as primeiras
Tendo o vapor por companhia
Conversa pegada de noite ou de dia
Gestos sinceros dessa fumaça
Riso sonoro resposta à chalaça
Palavras de alento dos vincos vincados
Na minha alma bem marcados

Sou como o ferro que desliza
nessa roupa marchetada de tristeza
Sou como a água que desbota a cor da natureza
Murcha a flor, rega ainda mais o sentimento
Do ferro faço uso pra passar o meu desalento

Rasgado sorriso pra roupa lavada
Cheira a fresco, cheira a alvorada
Cumplicidade de velhas amigas
Vende saúde e compra umas brigas
Simpatia que ainda desdobra e
Traz outras tantas para passar
Trabalho austero, brumoso, severo
Nos braços dele me perder eu quero
Como se de o verdadeiro amor se tratasse
Como se o mundo comigo travasse
A batalha final do vapor e da goma
Porque afinal contigo ou sem ti
parece que não tenho outra escolha

Mais um sobre o amor

Que amor é este que lancina,
feito de rosa purpurina,
aberta em flor, fechada de dor.
Que paixão tão adversa,
que me deixa submersa,
num oceano de dúvidas doloridas,
promessas não cumpridas,
beijos evitados, projectos calcinados.
O que me atrai em ti desdenho,
procuro uma força que não tenho,
que não existe, desde que partiste,
para um esfera desconhecida, onde há uma vida,
que em lado algum tem lugar, seja terra ou mar...
Sinto uma ténue saudade dos tempos áureos, fulgentes,
dos sorrisos reluzentes, alvoraçados, luzidios
em que as noites ocupavam os vazios,
deixados pela ociosidade desse louco amor...
E se tu voltasses aos meus braços, entre choro e perdão,
talvez quebrasse o meu coração, que anseia por mais e mais...
E se tu voltasses atrás, nessa sentença mordaz,
secamente proferida, talvez te aceitasse na minha vida,
de novo outra vez, sem questionar os porquês,
da súbita mudança, cega de esperança,
entregar-me-ia , a esse engodo, de olhos cerrados, coração aberto
porque o Amor é o que temos de mais incerto...