domingo, 16 de dezembro de 2007

Ninguém

Ninguém sabe o que tens na cabeça,
Ninguém sabe o que tens no coração,
uma mágoa, uma loucura avessa,
a luz do dia igualando a escuridão,

Ninguém sabe quando vais regressar
desse mundo baço que é só teu,
a tua razão com a minha a lutar,
insistindo que o mar é o céu...

Ninguém sabe quem te marcou
para seres diferente de todos
foi a luz que Deus apagou
de mansinho e com bons modos

Ninguém foge do seu fado
de ser e ninguém aceitar
é algo demasiado pesado
é bem mais fácil rejeitar

Ninguém cala a revolta e a dor
do abandono, dos olhares frios
só eu te posso dar o meu amor
e compreender os teus desvarios

Ninguém sabe como eu te adoro
louca talvez de uma loucura sã
ninguém sabe como às vezes choro
pelo meu hoje ser o teu amanhã

Ninguém sabe como és precioso
como espero atingir esse patamar
o sabor da loucura é delicioso
essa, que eu pretendo alcançar

Ninguém entende uma contradição
Lascam-te a alma, teu bem interior
Não fazem reparo de uma condição
Sublime, nobre, um ser superior

Ninguém merece conhecer-te por dentro
O quão maravilhosa é a tua essência
Ninguém merece saber-te o pensamento
A fonte clara da tua transparência

Porque olhas assim para mim
Com esse olhar tão distante?
E esse sorriso cortante,
magoado e carmim
Boca sagrada, divinamente fechada
Permanecerá perenemente assim?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Anoitece na Palestina

Anoitece na Palestina, à espera, em cada esquina

Está uma alma preparada, a evaporar pró nada

Tudo em nome de um deus, que é puro e está nos céus

Seguindo a religião, o paraíso cabe na mão

Não é preciso ler a sina, pra saber o que se adivinha

O castigo dos infiéis, vão-se os dedos ficam os anéis

Vai-se a vida, a existência, fica a mancha da presença

Anoitece nessa terra, onde um simples trovão

É guerra! Fria ou quente, é ter sorte

O sol põe-se entre nuvens, o passado não regressa

Quem tem vida, tem medo, quem quer paz, foge cedo

O céu não é igual, está envolto em neblina

O perigo espreita em cada esquina

Anoitece na Palestina...


Rumar a Israel ao muro das lamentações

Bater com a mão no peito, pedir mil perdões

Ou será que não há tempo para essa lamúria

Tudo o que mais abunda é uma incúria

Maldição que se abateu sobre suas vestes

Mais uma ofensiva, é breve, está prestes

a acontecer, não há nada a temer,

sinfonia explosiva, com orquestra organizada

há carne pra canhão e uma passadeira vermelha

que conduz ao céu que há tanto espera

com as portas abertas e exaustas, lugares reservados

a noite que se aproxima lesta, em tons arroxeados

diz adeus beija a terra santa, diz adeus vais pra deus,

diz adeus vais pra deus, vais ser mártir, cinza e nada

diz adeus à tua terra tão amada, despede-te, diz adeus

enquanto anoitece...na Palestina...


Ao Desconhecido

Desconheço-te.

Invisível a meus olhos e tão presente,

no meu sonho, no meu inconsciente

estás tu sempre a falar comigo,

um quê inquieto, um quê agressivo,

E se te inquiro minha voz perde-se no nada

Não me ouves, não respondes, viras a cara

Como se fosse eu o culpado de tudo

Permaneço imóvel, quedo, mudo,

Deixo-te falar, soltar palavras, juntar letras

Percebo o que dizes, não aceito, são tretas

Parcas verdades saídas do mesmo ventre,

sou o louco desvairado, ponto assente,

E insisto de novo, ouso questionar

Ânsia de saber , ânsia de desvendar,

Aguardas a minha aparição?

Sabes da minha ambição?

Desejas a minha amizade?

És tu o dono da verdade?

Desconheço-te, e hoje dei-te um rosto,

Nuvem ténue brilho de sol posto

Longínquo sonho, distante tempo

Em que afastava o céu cinzento

Em que saboreavas a Primavera

Em que sabia a tua espera

mesmo sem saber nada de ti...

muito menos de mim..

Desconheço-te e ainda insisto

à passagem do tempo resisto

fogo fátuo, brasa e nada

de cinzas pintado na madrugada

espero por ti, naquela entrada

a mesma que saio todos os dias

nas horas vagas das rotinas frias

gesto mecânico, voz de penacho

sou um vagabundo, não sei...acho...

.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O tal casal

Deambulando por essas ruas esbarrei num lindo casal,
passeavam-se bem aprumados, juntinhos e apaixonados,
a falsidade e o cinismo.
É vê-los felizes e contentes
desfilando ao sabor das marés,
sabendo aquilo que causam,
sabendo que são má rés,
mas continuam impunes de todos os males causados,
não é a culpa deste casal o mal que habita no mundo,
desculpam-se bem desculpados que os humanos ambiciosos,
incarnaram as suas façanhas
e são vontades tamanhas ser falsos e cínicos...
Que culpa têm eles se lhes roubam o poder e todos querem ser um casal igual?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Escrever não tem segredos?

Escrever não tem segredos.
Bater o teclado, empunhar a caneta,
dedilhar as teclas gastas da máquina de escrever...
Sim de facto escrever não tem segredos,
mas o que se escreve ... aí reside o segredo...
O que escrever? Escrever o que sinto ou sentir o que escrevo?
Escrever a minha vida ou vivê-la e depois escrever?
Escrever o que gosto ou gostar do que escrevo?
Escrever o que me vem à cabeça ou escrever com cabeça?
Escrever sem saber o quê ou tão bem conhecer o quanto?
Escrevo simplesmente sem me importar com regras ou convenções
porque tudo o que está escrito mais cedo ou mais tarde é lido,
tudo o que é lido é porque algum dia existiu...