domingo, 28 de junho de 2009

Adeus

O adeus perpetua a despedida
dolorosa em todas as feições
um adeus deixa a alma condoída
um adeus é fonte de emoções

Adeus amor, estás de partida
sinto-me presa a compulsões
sem nada fazer, sem saída
dando palco a confusões

A minha alma vagueia perdida
entre a negrura e os clarões
entre a subversão e a honradez

Adeus amor, e abre-se a ferida
extinguem-se as nossas ambições
enxugo as lágrimas que nascem de porquês

Passividade

Olho com passividade para este dia
nada me tira a calma da alegria
sinto-me serena, deixo o tempo passar
nem pelo futuro me deixo inquietar

Tenho o coração suspenso na fantasia
o sabor dos teus beijos a maresia
os sonhos em aberto por realizar
o teu ombro amigo para chorar

Só eu sei o que tenho para esperar
mas não me incomoda essa utopia
o do que dela possa brotar

Enquanto tiver o teu olhar
a passividade deste dia
vai eternamente triunfar

Saudade

A saudade é maior tormenta
que talvez o amor não correspondido
pois se ele existiu, algo alimenta
e lembra o que foi vivido

A lembrança no corpo rebenta
deixa o coração aturdido
há sempre uma esperança que sustenta
o iniciar do que tem que ser esquecido

Nada existe contra o desamor
nada que sossegue o sofredor
palavras leva-as o vento,

Nada existe que cure esta dor
porque me deixaste meu amor?
a tua lembrança é o meu sustento.

O meu sono

Sono perturbado e eterizante
os sonhos de névoa e irreais
o amor, desejo dos mortais
a ele aspiro, anelante.

Um sonho enfernizante
sonhos, pesadelos letais
se não os desejo, tenho-os mais
numa fatalidade agonizante.

Sonho transtornado
que faz meu ser alienado
acordo em decomposição,

Sono malfadado
tudo por ti causado
são agonias do coração.

Sossega

Sossega o teu coração ourado
no meu colo baço e embriagado,
sossega a tua alma macilenta
neste colo que acolhe a tormenta,
sossega o teu espírito debelado
porque o meu colo acolhe-te, meu ser amado!
Sossega a visão dessa quimera que te assusta
que não é mais que uma ilusão vetusta,
sossega os teus membros lassos
que o mundo inteiro e eu acolhem os teus cansaços,
sossega o teu corpo amortalhado
que o meu não está em melhor estado.
Sossega! Vem ter comigo sem medo,
porque eu compreendo o teu degredo.
Sossega, sossega, sossega, amor!
Enquanto eu viver nunca mais sentirás dor!

Achamento de um amor?

Extenuada da existência nesta orbe que é a terra
nada me acalentava, a chama extinguia-se, esperança esvaía-se.
O teu achado? Portentoso e divino talvez.
Padecem dias longos e exasperantes
e dentro de mim uma alvoroçada paixão brota,
tão inquieta como mansa, tão colérica como ardente,
E nesta alucinação, no precipício dos dias
na emancipação das noites, o dessassossego atenua-se.
Quero dilacerar o desejo de querer sempre mais,
quero quebrantar a loucura da sempiterna insatisfeita com o amor.
E se tu fosses como eu!
Não! O teu talhe desavindo com o meu,
um antagonismo caro, uma contrariedade absurda
e tudo isso se dissolve quando digo, amo-te.
Porque não me dizes também?
Porque tenho que extorquir dos teus lábios tal palavra?
Estou amofinada, aperreada...
Furta-me a esta angústia, arranca-me desta opressão.
Este amor é um sonho mal sonhado, o nosso fado está mal traçado
mas a minha vida continua na tua mão.

Um momento

O meu corpo imóvel deitado
numa cama de veludo pintado
vermelho vestido, vermelho sangue, marchetado,
chegas devagarinho sem sinal de desalinho
e deitas-te comigo numa paz sem castigo...
Não há palavras cruzadas, só mãos envergonhadas
que entrelaçam o corpo nú , absorto.
Nítida timidez dessa primeira vez
em que sopras o pecado,com as mãos semeado(apenas).
A beleza que alçanças ao meu alcance não está
oculta nas sombras irrompidas da manhã,
um quebranto natural invade o teu olhar
como quem morde o lábio,com um leve sussurrar,
fico sem palavras perante a dúbia mudez
que te acolhe nos braços de quando em vez.
E partes de regresso à tua vida gelada
onde ficas sossegado, alienado no nada,
sou um simples fio pendente na tua vida vazia
sem amor, nem rancor a tua presença alivia
como um sopro de luz cinzento mesclado
desejo-te comigo, desejo-te a meu lado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Anseios

Desejo que o dia passe por mim
Em bicos dos pés, sem fragor
Sem o mínimo abano ou odor
Que roce as mãos uma na outra
Se a felicidade é coisa pouca
E o envelhecer fizer parte
Do mesmo saber da mesma arte
Desejo que o dia se detenha
em movimentos de câmara lenta
Sem vergonha intimidado e controlado
Por motivos programados por mim
Tão lentos e demorados
retratados em fotografias
abandonadas ao acaso
extraídas noutro século
contudo contemporâneas
tão usuais e tão humanas.
Desejo que o mal que me fazem
Seja fruto da imaginação
do tempo palmilhado
outrora pela alucinação
Tenho a cabeça a estoirar
De pensamentos e difamações
Que mal cabem dentro grilhões
E sinto-me empurrada
De umas mãos para outras
Boneca de trapos usada
figura de fábula mal contada
Sem conseguir soltar um suspiro
Subo as montanhas do tibete vou em retiro
Indiferente a toda a intriga
que me faz acreditar
Que sou um fio pendente no tecto
Que a qualquer momento pode cair de cansaço
A acontecer que seja no teu regaço
E não desejo mais sentir-me
Um papel amarrotado nas mãos da ganância
Uma folha outonal a deambular na ignorância
Castanha e gasta com os trambolhões
Sujeita a viver de contradições
Desejo que os meses e os anos
Sejam fruto de umas conjunções
Tudo menos humanas
E que o dia passe por mim
Se assim o desejar
E que se me quiser levar, aceito…

terça-feira, 2 de junho de 2009

Despertar

Vivia numa apatia pegada
O meu olhar era feito de nada
O coração em debandada
E nada disso me incomodava
Só queria o meu sossego
A sensação de desapego
Pouco tarde ou pouco cedo
Erguendo os ombros ao medo
Responsabilidades assumidas
Tarefas minuciosamente divididas
Beijos secos sem contrapartidas
Sombras geladas sem expectativas…
Mas um dia sem contar
Sem saber explicar
Dei por mim a imaginar
Que te estava a estrangular
A apertar-te o pescoço, ó vida!
Vida queda, muda, lassa
Com uma vontade que não passa
Rasgando-te de fio a pavio
Esquartejando-te de um só desvio
Gritando e praguejando:
Porque me abriste os olhos?
Era tão mais fácil se não falasse
Se tudo continuasse igual
A mesma apatia, a voz vazia
O coração parado, o olhar toldado
Se não tivesse conhecido o significado
Da palavra amar…
Agora queimo-me na ansiedade
Não durmo, não como, vivo na mentira e na verdade
E é assim que o medo desperta do seu sono
E se desfaz uma montanha com um eco
Nada mais faz sentido e levanta-se o rumor
Que ao conhecer o amor jamais voltarei ao que era…

Dona Dor

Conheci-a faz tempo
Pareceu-me bela no momento
Veio lesta e mansinha
Até bebemos caipirinha
Julguei-a minha amiga
Uma boa rapariga
Poucos dias passaram
Até mudar a opinião
Até saber que afinal
Ela é dona bem conhecida
Nem sempre bem-vinda
ou compreendida
Só tenho a questionar
Porquê a mim dona dor?
Ela diz que foi mandada por ti
Que veio fazer-me companhia
Para eu me lembrar que um dia
algures escrito noutro tempo
se formou e esfumou a nossa história
pra que jamais apague da memória
tendo dona dor como sombra e guia…
E agora mais conformada
aqui fica apresentada:
Hoje vos apresento a minha dor
Cumprimentem-na se faz favor
Com dois beijinhos com sorrisinhos
Faz parte da etiqueta da boa educação
Se forem cavalheiros beijam-lhe até a mão
A mão da D. Dor, a mão da D. Dor....
Houve um tempo em que me inquietei
Me contorci e desesperei,
por ela ser a minha sombra
por não dar um passo sozinha
Mas cada vez mais me convenço
Que somos irmãs gémeas
Que nunca se separam
Irremediavelmente ligadas
pelo mesmo cordão umbilical
Dona dor vive comigo
Eu vivo pra dona dor
Sinto o mesmo que ela sente
Ela de mim não tem pena
Eu dela não faço acaso
Viro as costas não lhe falo
Nem adianta falar
que apenas com um olhar
Ela me domina e faz render
Dona dor, nas suas mãos tem o poder!

O risco do arrisco

Até arriscaria
Se soubesse quanto tempo
Leva a desfiar um momento
Depende do relógio usado
Se o ponteiro anda ou está parado
Ou até rodopia em sentido inverso
E no reverso da medalha alguém se reinventa
Auto- colore com azuis e magenta
Até arriscaria
Se soubesse que perder não faz sentido
Quando a ambição é bem medida
Quando alguém gritou “partida”
E os pés não descolaram do chão
Porque algo tocou a intuição
foi soprado ao ouvido por um anjo
O da guarda ou da discórdia
Assertivos como devem ser
O risco do arrisco
Pode escrever-se com um rabisco
Com letra de doutor
Letra de primária
erros de palmatória
o arrisco da história
fica escrita onde o povo quiser
Até arriscaria
Se soubesse que o amor
É duradouro além da morte
Que alguém inventou
Que um dia teremos um fim
e nada disso é verdade
Que existe na eternidade
um lugar reservado para mim
Até arriscaria
Se soubesse de trás para a frente
Em que terra se planta a semente
que nunca tardou a dar seus frutos
com que linhas se cose ou descose
o futuro que receio
e até arriscaria
se o risco do arrisco me fizesse companhia…

Sonho Improvável

É tão improvável que apareças
Que venhas fazer-me companhia
E na minha teimosia
Acalento e dou vida à esperança
Fico sentada com o olhar fixo
Coração alerta, esperando…
É tão improvável que me dês um sinal
Que me leias os pensamentos
E mesmo assim espero
Sem o mínimo cansaço
Desânimo ou fraqueza
Confiança no regaço
E o íntimo que não sossega.
Possuo o dia e um dia não chega
Para colocar as ideias em ordem
Quando as horas são tão vulgares
Se não estiveres comigo
E é tão improvável que venhas falar
De uma vida que não existe
De presumidas atitudes
De umas e outras vicissitudes
E mesmo que não venhas
Os meus olhos deliram
À simples passagem de uma imagem
De uma lembrança veloz
Ágil estrela cadente
Em que desfilas imponente
De sorriso vincado e olhar melado
Que se dissipa com um dedo a estalar
Pareço uma sombra a acordar
De um sonho tão improvável

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Irritação

Hoje sinto-me irritada
Insuportável, mal -humorada
Uma palavra é uma granada
Que nem precisa ser lançada
Para explodir nas minhas mãos
Impaciente com o ruído
E qualquer prurido é uma praga
Que mina e destrói
Hoje estou intempestiva e agressiva
Fechada a conselhos ou a sugestões
A mensagens ou insinuações
Só me visto de rebeldia e assisto
À mesma ideia a recalcar
E não faço ideia porquê
Ou talvez saiba e não queira admitir
Que há uma saudade a emergir
Uma angústia a sobressair
Não quero assumir
Que me sinto aflita porque não estás aqui
Hoje é só choques frontais
Bato de frente sem me importar
Se estou a ferir ou a magoar
Não ouço nada nem ninguém
Só esta saudade, esta dor a desgastar
Me faz continuar a te procurar
A vasculhar, remexer, fixar
E mais uma vez te vejo parado
Sem resposta nem recado
Ausente, distante, desligado
O meu coração despedaçado
Somente concentrado em ti…