domingo, 4 de maio de 2008

Noite

Quero dormir toda a manhã
Enquanto o mundo gira
Empurrado pela afã
do escuro cintilar
Da noite e escuridão
Onde os meus olhos repousam
A difícil convulsão
a que foram sujeitos
imperfeitos, liquefeitos, atreitos
com as luzes da pista
a perder-se de vista
a cabeça a rondar
outras caras e medos
dormir somente
fugir dos enredos
de uma dança qualquer
no meio de homens ser mulher

Noite! péssima companheira
nos azares aventureira
quem nada teme,
tem a noite anfitriã
enquanto não chega a manhã
Podendo dançar na noite
No escuro estar protegida
Põe na dança a tua vida
Põe na noite a tua mão
Sente o calor, sente a pulsação
Da noite! noite!

cansei o meu corpo
abandonei-o à exaustão
não quero nem preciso
que me peças perdão
o que lá vai lá vai
faz parte do passado
de entreabertas entremeado
de contos mal contados
quero apenas descansar
sem ouvir o tilintar
dos copos partidos
desse abanar de ancas
consentindo pecados
beijos roubados na secreta noite

quero fechar a cabeça
entre fofas almofadas
cobertores de abas bordadas
para esquecer que fui parte da noite
e que a noite foi parte de mim
ser apenas um sono leve e fresco que dorme
e não acorda sem ordenada ordem
Sem prévio consentimento
É chegado o momento de fingir
Não ter nada a ver com esses mundos
E levantar o sossego, nunca mais ter medo
Acordar e sentir-me leve e livre

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