quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ferro

Horas e horas a fio a engomar
Mil vezes nada, roupa enrugada
Gesto mecânico, balanço medido
Estica de um lado encolhe o sentido
Cantarolando cantigas brejeiras
As últimas palavras são as primeiras
Tendo o vapor por companhia
Conversa pegada de noite ou de dia
Gestos sinceros dessa fumaça
Riso sonoro resposta à chalaça
Palavras de alento dos vincos vincados
Na minha alma bem marcados

Sou como o ferro que desliza
nessa roupa marchetada de tristeza
Sou como a água que desbota a cor da natureza
Murcha a flor, rega ainda mais o sentimento
Do ferro faço uso pra passar o meu desalento

Rasgado sorriso pra roupa lavada
Cheira a fresco, cheira a alvorada
Cumplicidade de velhas amigas
Vende saúde e compra umas brigas
Simpatia que ainda desdobra e
Traz outras tantas para passar
Trabalho austero, brumoso, severo
Nos braços dele me perder eu quero
Como se de o verdadeiro amor se tratasse
Como se o mundo comigo travasse
A batalha final do vapor e da goma
Porque afinal contigo ou sem ti
parece que não tenho outra escolha

Sem comentários: