Desconheço-te.
Invisível a meus olhos e tão presente,
no meu sonho, no meu inconsciente
estás tu sempre a falar comigo,
um quê inquieto, um quê agressivo,
E se te inquiro minha voz perde-se no nada
Não me ouves, não respondes, viras a cara
Como se fosse eu o culpado de tudo
Permaneço imóvel, quedo, mudo,
Deixo-te falar, soltar palavras, juntar letras
Percebo o que dizes, não aceito, são tretas
Parcas verdades saídas do mesmo ventre,
sou o louco desvairado, ponto assente,
E insisto de novo, ouso questionar
Ânsia de saber , ânsia de desvendar,
Aguardas a minha aparição?
Sabes da minha ambição?
Desejas a minha amizade?
És tu o dono da verdade?
Desconheço-te, e hoje dei-te um rosto,
Nuvem ténue brilho de sol posto
Longínquo sonho, distante tempo
Em que afastava o céu cinzento
Em que saboreavas a Primavera
Em que sabia a tua espera
mesmo sem saber nada de ti...
muito menos de mim..
Desconheço-te e ainda insisto
à passagem do tempo resisto
fogo fátuo, brasa e nada
de cinzas pintado na madrugada
espero por ti, naquela entrada
a mesma que saio todos os dias
nas horas vagas das rotinas frias
gesto mecânico, voz de penacho
sou um vagabundo, não sei...acho...
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