Desejo que o dia passe por mim
Em bicos dos pés, sem fragor
Sem o mínimo abano ou odor
Que roce as mãos uma na outra
Se a felicidade é coisa pouca
E o envelhecer fizer parte
Do mesmo saber da mesma arte
Desejo que o dia se detenha
em movimentos de câmara lenta
Sem vergonha intimidado e controlado
Por motivos programados por mim
Tão lentos e demorados
retratados em fotografias
abandonadas ao acaso
extraídas noutro século
contudo contemporâneas
tão usuais e tão humanas.
Desejo que o mal que me fazem
Seja fruto da imaginação
do tempo palmilhado
outrora pela alucinação
Tenho a cabeça a estoirar
De pensamentos e difamações
Que mal cabem dentro grilhões
E sinto-me empurrada
De umas mãos para outras
Boneca de trapos usada
figura de fábula mal contada
Sem conseguir soltar um suspiro
Subo as montanhas do tibete vou em retiro
Indiferente a toda a intriga
que me faz acreditar
Que sou um fio pendente no tecto
Que a qualquer momento pode cair de cansaço
A acontecer que seja no teu regaço
E não desejo mais sentir-me
Um papel amarrotado nas mãos da ganância
Uma folha outonal a deambular na ignorância
Castanha e gasta com os trambolhões
Sujeita a viver de contradições
Desejo que os meses e os anos
Sejam fruto de umas conjunções
Tudo menos humanas
E que o dia passe por mim
Se assim o desejar
E que se me quiser levar, aceito…
sexta-feira, 5 de junho de 2009
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2 comentários:
Entendo algumas das passagens deste poema, desejos que toda a gente teve algum dia
A propósito...Uma das minhas canções chama-se mesmo assim. Acho que procuramos e ansiamos igual...
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